27 de junho de 2010

Claude Lefort: democracia e a impossibilidade de eliminação do conflito

Crítico radical do totalitarismo, o filósofo francês Claude Lefort tem suas ideias revisitadas em publicação da Jacintha Editores. O Enigma da Democracia. O pensamento de Claude Lefort (em produção gráfica) é assinado pelo cientista político Luciano Oliveira (foto ao lado), fruto do contato direto e contínuo com a produção do intelectual francês, sob cuja orientação cursou o doutorado na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris), com tese versando sobre democracia, direitos humanos e o pensamento político de esquerda no Brasil.

O também ensaísta Luciano Oliveira atualmente é professor de sociologia jurídica na Faculdade de Direito do Recife. Para antecipar as teses e discussões trazidas por O Enigma da Democracia, que conta com prefácio de Marilena Chaui, convidamos Nuno Coimbra Mesquita, cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas-Nupps/USP, para entrevistar o mais novo autor da Jacintha. E o resultado foi de tal ordem que, pela primeira vez, abrimos mão da preocupação em postar material curto e de leitura mais rápida, que nos parece mais condizente a blogs. Nossos leitores merecem ter acesso integral a tal entrevista. Ei-la aqui. Aproveitem!


Gostaria de começar pelo final. A frase que encerra o seu livro afirma ser Lefort um autor que não deve ser esquecido. Na sua visão, esse pensador francês tem tido o reconhecimento que merece? Qual a importância de resgatar o pensamento desse autor?
Não, não tem tido reconhecimento. Nem aqui nem no seu país, onde raramente é lembrado como um dos pensadores mais importantes da segunda metade do século passado. Mas cabe não esquecer que, com Castoriadis, ele foi o fundador, logo no pós-guerra, de um movimento que depois se tornou uma revista célebre, Socialismo ou Barbárie, a primeira publicação de esquerda a recusar a tese do socialismo soviético como um regime simplesmente pervertido pelo personalismo de Stalin, vendo ali, ao contrário, um regime sui generis, no qual uma nova camada social, a burocracia, tinha se tornado uma nova classe dominante. Em resumo, não era socialismo coisa nenhuma! Apesar disso, enquanto resplandeciam nomes como os de Sartre ou de autores definitivamente datados como Althusser, seu trabalho permaneceu “na sombra”. No Brasil, ele se tornou conhecido, no início dos anos 80, pela publicação de um de seus livros mais representativos, A Invenção Democrática, que foi muito lido. Como você sabe, gostamos muito de teóricos estrangeiros, de preferência europeus, para legitimar nossas opções acadêmicas. Lefort, valorizando a democracia, coube como uma luva naquele momento em que todo um movimento de defesa dos direitos humanos tinha aparecido no ambiente da esquerda. Era o ocaso da ditadura militar e precisávamos de novas orientações. Sai Althusser, entra Lefort! Depois, passou. Passou como costumam passar as modas no Brasil, sem deixar mossa nem bossa.
.....Mas uma questão às vezes me intriga: um autor como Bobbio, por exemplo, cuja obra gira em torno dos mesmos temas, está sempre sendo lido. Por quê? Uma razão possível é que o pensamento de Bobbio é um tanto convencional. O de Lefort, não. É verdade que o que ele diz em defesa da democracia pode ser subscrito por qualquer jurista liberal. Mas isso se situa num primeiro nível do seu pensamento, em que a adesão é fácil. Há, entretanto, um segundo nível, certamente mais importante, que já não é tão facilmente palatável. Começa que o seu estilo, que Marilena Chauí define como “espiralado interminável”, não ajuda muito. Depois, o significado mais profundo que ele vê numa sociedade democrática, aquela em que o povo no poder é um princípio simbólico, não real, e, mais do que isso, irrealizável (pois a “precipitação do simbólico no real” causaria a sua perda), não é nada convencional e chega a ser desconcertante.

Você sublinha que Lefort se distingue de outros autores do mainstream da filosofia francesa por sua maneira teórica de pensar. Em que consiste exatamente tal singularidade?
Se fosse escolher uma, chamaria a atenção para a hegemonia dos chamados “mestres da suspeita” (Marx, Nietzsche e Freud) no pensamento francês da segunda metade do século XX. Todos eles nos ensinaram que por trás das coisas aparentes existem outras, inconfessáveis, o que de fato explicam o que se passa no nível das aparências: o interesse da classe dominante, a vontade de potência, o inconsciente etc. Contemporaneamente, Foucault foi o nome mais importante dessa maneira de pensar. Ora, a reflexão de Lefort passa ao largo da suspeita que esses autores (dominantes também na academia brasileira, aliás) representam. Frente à realidade visível, costuma-se fazer a conhecida pergunta: “mas o que é que está por trás disso?”. Questão legítima. Mas, à força de ir ver o que está por trás das coisas, não corremos o risco de não ver o que está na nossa frente? ─ as coisas mesmas? Nisso consistiria uma singularidade lefortiana: “visar a sociedade tal qual ela é”! – é um de seus motes.
.....Só para dar um exemplo, remeto-me a um autor em cuja obra a influência de Nietzsche é explícita e a de Marx, mesmo menos evidente, ainda assim é considerável: Foucault. Consideremos o arquiconhecido Vigiar e Punir, onde o autor defende a tese de que a substituição dos suplícios por métodos menos sanguinários como a prisão não constituiria senão o subproduto de um novo tipo de sociedade, que ele chama de “disciplinar”. A obra dos reformadores penais, assim, teria como motivação um utilitarismo escondido Questão legítima, sem dúvida. Só que em nenhum instante Foucault considera a possibilidade de que os reformadores pudessem estar agindo também por um genuíno impulso de sensibilidade humana ─ o que, claro, não exclui a motivação utilitária. Ora, uma tal maneira de pensar termina suprimindo um dos aspectos mais cruciais dessa história: a coisa mesma ─ ou seja, a crueldade inerente à cena de um corpo sendo queimado ou rompido em pedaços ainda vivo! O que, em primeiro lugar, chocaria o próprio Foucault, um incansável militante dos direitos humanos...

Apesar de Lefort defender o regime democrático em suas formas institucionais – ou procedimentais –, tal defesa também apresenta uma perspectiva nada convencional. Qual seria essa contribuição de Lefort?
Quando falamos nas formas institucionais da política nos países democráticos – que Lefort obviamente defende –, estamos, sem notar, diante de um fenômeno interessante: essas sociedades circunscrevem um domínio institucional que chamamos de a política, onde se exerce o poder no sentido estrito do termo. Mas o que existe de mais interessante na democracia é que esse movimento de circunscrição é ao mesmo tempo um movimento de emancipação de outros domínios, que Lefort genericamente chama de lei e de saber, e que escapam à sua tutela. Isso constituiria o princípio político dessas sociedades, na medida em que é político o gesto que defende essas esferas das interferências indevidas da política no sentido convencional do termo, percebe? Dito em palavras mais simples, escapam à sua tutela princípios jurídicos, modos de pensar e de viver discordantes, o “livre exame” que está na base da pesquisa científica etc. Para usar seus termos, ocorre nas sociedades democráticas um “desintrincamento” entre essas esferas, confundidas nas sociedades do ancien régime na pessoa do Rei, cujo corpo místico encarnava a sociedade inteira e “intrincava” na sua pessoa esses vários domínios. Ora, com a “revolução democrática”, o Rei é substituído pelo Povo. Mas o que é o Povo? É uma abstração. Não tem corpo, não tem uma única vontade etc. Aí se instaura o que conhecemos como democracia, um regime em que, diferentemente do tempo do rei, inaugura-se uma discussão, que é sem fim, sobre o que é legítimo e o que não é. Ou seja, instaura-se a legitimidade do próprio conflito! Isso não é um fenômeno sempre portador de boas novas, daí a angústia que esse regime traz consigo. O totalitarismo, no caso, seria uma tentativa de reverter o processo, estabelecendo um corpo para o indefinido Povo. No caso do nazismo, foi a “raça ariana”; no caso do comunismo, a “classe proletária”. Os resultados de tudo isso, todos conhecemos...

Lefort diferencia a política e o político. Como você expõe, as pessoas, em geral, são indiferentes à primeira, por conta da corrupção, demagogia e mediocridade. Entretanto, isso não significaria necessariamente o desprestígio da democracia em si. Contudo, não existiria o risco dessa descrença em relação à ‘a política’, a longo prazo, levar à tentação autoritária?
Sem dúvida, e sobre esse perigo ele adverte constantemente. O seu último livro, La Complication, não traduzido entre nós, trata incisivamente disso, ao lembrar que, se o comunismo está morto, as questões que ele levanta não naufragaram junto. Entre outras razões porque no mundo do começo do século XXI a insegurança dos indivíduos, sob o influxo desagregador da globalização, recrudesce. Nessas condições, é sempre possível a gestação de um novo “ovo da serpente”. É quando surge a tentação de uma identidade substancial, de uma sociedade liberada da divisão e, assim, capaz de livrar as pessoas da incerteza. A democracia, nesse sentido, porta consigo uma fragilidade substancial: nela a sociedade tem de suportar o fardo da indeterminação. Tal indeterminação aparece sob diversas formas e em diversos lugares. Um dos exemplos mais controvertidos desse traço essencial da democracia é o fato de que se trata, como diz Lefort, de “um regime fundado na legitimidade de um debate sobre o legítimo e o ilegítimo – debate necessariamente sem fiador e sem termo”. Só que essa ausência de fiador e de termo é angustiante. No limite, insuportável, pois ela cauciona de certa forma a injustiça social. Lefort tem plena consciência dos riscos e das cobranças a que sua concepção de democracia está exposta. Mas, pensador da indeterminação por excelência, Lefort prefere continuar suspenso nas próprias dúvidas a ceder à facilidade de dar uma resposta que satisfaça o leitor inseguro e ávido de certezas – que ele próprio não tem. Mas é importante ressaltar que Lefort tem um olhar bastante acurado sobre a realidade para perceber que a divisão social é um fenômeno bem mais vasto do que o conflito entre capital e trabalho, e que não se refere apenas à divisão entre classes, para usar um termo marxista. O totalitarismo, como a experiência histórica demonstrou, ao definir-se como uno stato totalitario – a expressão remonta ao fascismo italiano –, a pretexto de acabar com o conflito entre classes, redunda em aniquilar toda a diversidade de que a sociedade é feita.

Em sua interpretação, Lefort encararia o mundo como um problema sem solução, sem que isso signifique não haver soluções para os problemas do mundo. Poderíamos dizer, de outra forma, que encarar o mundo como um problema com solução está na esfera das utopias, o que degeneraria fatalmente no totalitarismo, enquanto a perspectiva da solução dos problemas do mundo se materializa na democracia como sede da ambição melhorista?
Sua pergunta já contém uma boa resposta. Teria muito pouco a lhe acrescentar. Devo sublinhar, até porque não tenho o direito de pôr na sua boca o que ele nunca disse, que a fórmula do mundo como problema sem solução não é de Lefort, embora acreditando que ele a subscrevesse. Desenvolvi-a no contato com sua obra, que fala constantemente na impossibilidade de eliminação do conflito, no conflito como o elemento que irriga a dinâmica democrática, na invenção permanente de novos direitos decorrente dessa dinâmica etc. etc. E que, nesse caso, “apaziguar” a sociedade só será uma operação possível se ao mesmo tempo destruirmos a democracia, que existe justamente em função dos conflitos que ela não elimina, mas apenas agencia. Lógico que ela resolve problemas sociais. Mas, imediatamente, e muitas vezes como decorrência da própria solução, surgem novos problemas – e assim sem fim. A tentação totalitária, uma preocupação sempre presente nos seus escritos, é uma tentativa de apaziguamento que leva ao inferno dos campos de concentração e à paz dos cemitérios.

Foto do autor: Lillian Arruda

24 de junho de 2010

"A dança dos beija-flores no camarão amarelo" está chegando!

Está em processo final de impressão o tão aguardado livro de Lucília Augusta Reboredo, o seu comovente A Dança dos Beija-Flores no Camarão Amarelo. Acometida por esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença neurológica que paralisou progressivamente todos os seus comandos motores, a autora redigiu sua narrativa ‘soletrando com os olhos’, que é a base de sua escrita, pela qual o movimento dos olhos indica, letra a letra, os seus pensamentos.

O livro também regrita a exposição Recomeçar é Preciso (2006), na qual Lucília, já acometida pela doença, expôs suas pinturas de mandalas e em telhas, reproduzindo inclusive as inúmeras reflexões e manifestações de carinho deixadas, então, no livro de visitantes. Também dedica um caderno colorido inteiro para fotos e trabalhos artísticos da escritora, expressivamente nomeados por ela, como os reproduzidos nesta postagem.

Vale muito a pena aguardar mais um pouco por A Dança dos Beija-Flores no Camarão Amarelo. A tessitura de vida que Lucília propicia compartilharmos com ela certamente é arrebatadora.

A Dança dos Beija-Flores no Camarão Amarelo. Curso e percurso do adoecimento. Apresentação: Ely Eser Barreto César; 192p.; 25 cm; ISBN 978-85-60677-10-8; proj. gráf. e capa: Juliana Mesquita
. Telha: "Suavidade e leveza"
. Mandala: "O sentido do tempo na imobilidade num mundo de movimento"

18 de junho de 2010

Morre Saramago

O único ganhador do Nobel de Literatura em língua portuguesa, José Saramago, morreu nesta sexta-feira (18) em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde vivia com sua segunda mulher, Pilar Del Rio. A informação foi dada pela família do escritor português, que, aos 87 anos de idade, era um dos maiores nomes da literatura contemporânea.

Autor de obras como Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra, História do Cerco de Lisboa, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Todos os Nomes e Caim. Em 2008, seu Ensaio sobre a Cegueira foi transformado em filme homônimo pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, tendo como protagonistas Julianne Moore e Mark Ruffalo.

Além de grande escritor, Saramago foi um intelectual de posições marcantes, por ele defendidas com coragem e brilhantismo, coerente à própria literatura contemporânea que desenvolveu. Em janeiro deste ano, José Saramago lançou uma nova edição de A Jangada de Pedra e toda a renda das vendas foi revertida para as vítimas do terremoto no Haiti. O montante foi doado ao fundo de emergência da Cruz Vermelha no país.

Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala. [JS]

Capa do livro Saramago: biografia, de João Marques Lopes. Ed. Leya, 2010

15 de junho de 2010

Estamira: no louco, o verbo se faz carne

O fotógrafo Marcos Prado, ao registrar as imagens do lixão Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, encontrou Estamira. Ao pedir para tirar um retrato daquela mulher, ela concordou, com uma condição: que ele sentasse ao seu lado para conversar. Estamira lhe contou que morava num castelo, todo enfeitado com coisas encontradas no lixo; possuía uma missão na vida: relevar e cobrar a verdade. Certo dia ela lhe perguntou a Marcos qual era sua dele. Antes que pudesse responder, ela disse: “Sua missão é revelar a minha missão”. Assim, surge o impressionante documentário que traz como título o nome da sua personagem central.

Vencedor de 33 prêmios nacionais e internacionais de cinema, sucesso de crítica e o documentário de maior público nos cinemas brasileiros em 2006, Estamira traz tanto questões de interesse global e tão atuais, como o destino do lixo produzido pelas metrópoles, como os subterfúgios que a mente humana encontra para superar uma realidade insuportável de ser vivida. Com seus delírios psicóticos, Estamira supera sua condição miserável a partir do lixo da nossa civilização, e coloca em questão valores fundamentais, muitas vezes esquecidos pela sociedade

Exemplo dos mais vívidos de que, segundo Lacan, “no louco, o verbo se faz carne”, Estamira será assistido no próximo sábado (19/jun.), às 15h, durante o projeto Psicanálise em Extensão, em Piracicaba, neste que é o seu segundo encontro. Na sequência haverá a exposição da psicóloga e psicanalista Disete Devera, mestre em subjetividade e saúde coletiva pela Unesp e supervisora clínico-institucional de Serviços de Atenção em Saúde Mental de Rio Claro.

Documentário: Estamira, 115 min., 2004; dir. e rot.: Marcos Prado
Palestra: “Loucura ou resistência? A arte de inventar sentidos!”, Disete Devera

Local: Clínica de Psicanálise – R. Prudente de Moraes, 1.314 – Bairro Alto – Piracicaba
Inscrições por email: mmariguela@gmail.com. Vagas limitadas: 25

Foto: divulgação

Calango Andando: vai encarar?

Atenção pessoal que procura atividade física que una contato com natureza e ampliação de grupo de amizades! Há aqui na cidade um grupo que promove caminhadas por trilhas com diferentes graus de dificuldade. Mas sempre preparadas com alegria, organização e o cuidado com as condições dos participantes, tendo em vista o grau de dificuldade de cada trajeto.

Trata-se do Calango Andando! Grupo de amigos que há dez anos se reúne para bater perna pela região e ampliar número de amigos. O ponto de encontro é o portal da Esalq, de preferência com quinze minutos de antecedência ao horário de saída (6h), para aquecimento e instruções. Mesmo com frio ou chuva, o evento sempre ocorre. Menores precisam estar acompanhados de seus responsáveis.

. Próxima calangada: Sto. Antonio de Sapezeiro, 26/jun. (sáb.)
. Percurso: 23 km
. Nível de dificuldade: moderado

Vamos encarar?!

Dicas importantes sobre o que levar na mochila e alongamentos para antes e depois das caminhadas, fotografias de atividades já realizadas, inscrição para a próxima, entre outras informações: site do Calango Andando.

Foto-montagem: Jac©Edit

13 de junho de 2010

Estudos em língua portuguesa

O Curso de Especialização em Língua Portuguesa da Unimep promove, no próximo sábado (19/jun.), sua II Jornada de Estudos, que ocorrerá no Auditório do Bloco 7, do campus Taquaral, das 8h às 16h.

No período da tarde, Newman Simões, autor de livro publicado pela Jacintha Editores, e o jornalista Heitor Amílcar estarão abordando aspectos do ato da criação literária até sua exposição no suporte livro: o processo da escrita e a necessidade de sua publicação – publicar para quê? por que o envolvimento de uma casa editorial para tanto? Após o debate haverá o evento de lançamento do livro de Newman, Ilogic@mente.

Programação
8h Abertura do evento - vídeo O Dr. José se chama José Mindlin
8h30 Palestra ‘Um olhar sobre a Biblioteca José Mindlin’. Profa. Alice Aguiar de Barros Fontes, ex-diretora do Centro de Estudos Brasileiros da embaixada do Brasil em Moçambique e ex-gestora da Biblioteca José Mindlin
13h30 Palestra ‘Livros: o olhar do escritor’. Prof. Newman Ribeiro Simões, autor de Ilogic@mente, Poemas (Jacintha Editores: 2010)
14h30 Palestra ‘Livros: o olhar do editor’. Heitor Amílcar - Jacintha Editores
15h30 Lançamento do livro Ilogic@mente, Newman Ribeiro Santos

Haverá certificado de participação. Mais informações: (19) 3124-1501
Foto: Jac©Edit

10 de junho de 2010

Entrevista com Luciano Oliveira, autor de novo livro da Jacintha

O livro O Bruxo e o Rabugento: ensaios sobre Machado de Assis e Graciliano Ramos, do cientista político Luciano Oliveira, já comentado aqui em matéria de abril passado, será o centro de um debate na próxima 2.a-feira (14/jun.), às 17h, na Sala de Seminários da Pós-Graduação em Sociologia, na Universidade Federal de Pernambuco. O evento contará com a participação dos professores Valéria Torres e Fernando da Mota Lima.

Mota Lima mantém o interessantíssimo Literatura e Crítica Cultural, “um blog que mescla livremente a literatura ao clima cultural visando compreender a atmosfera confusa e volátil em que vivemos”. Nele, acaba de postar uma entrevista com Luciano Oliveira, na qual tratam de Machado, Graciliano, literatura, sociologia... Mas também discutem a possibilidade de conciliação entre o gênero ensaístico, tão próximo do estilo literário e especulativo, e a fundamentação empírica do argumento ou interpretação. Vale uma lida!

Até para conhecer melhor o autor de O Enigma da Democracia. O pensamento de Claude Lefort, que Luciano Oliveira estará lançando, dentro de poucas semanas, pela Jacintha Editores. O novo livro versa sobre o pensador francês contemporâneo, tido como pioneiro do antitotalitarismo e o grande reabilitador da teoria democrática. Lefort (foto ao lado) é um dos maiores pensadores da política e do totalitarismo do nosso tempo, e seu itinerário filosófico teve influência decisiva de Merleau-Ponty, de quem foi um dos principais alunos.

Foto: Aldo Soares

9 de junho de 2010

Bruta flor

Aí vai uma dica de espetáculo imperdível, neste final de semana, em Piracicaba. O Projeto Viagem Teatral 2010 traz a peça De como fiquei Bruta Flor, da premiada diretora Cibele Forjaz, dramaturgia de Cláudia Schapira e elenco composto pelas ótimas Lucienne Guedes e Mariana Senne. Vai ser um arraso.

O espetáculo resulta do encontro dos grupos Cia. Livre, Cia. Oito Nova Dança, Cia. São Jorge de Variedades e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, tidos entre as mais produtivas e atuantes companhias teatrais da atualidade.

De como fiquei Bruta Flor é uma história de amor e abandono. Um poema de ações dramáticas no qual duas atrizes, num jogo-revezamento, vivenciam a jornada de uma mulher que desce aos infernos em busca de si mesma.

Apresentações: nos dias 12/jun. (sáb.), às 20h, e 13/jun. (dom.), às 19h, no Sesi Piracicaba (Av. Luiz Ralph Benatti, 600 – Vila Industrial). A entrada é gratuita; portanto, vale a pena chegar um pouco antes para garantir o ingresso. [Imagem: Kelly Knevels]

Também neste sábado, às 20h, o Ponto de Cultura Garapa inaugura seu espaço cênico com a comédia A Noiva de Defunto, do Núcleo Bagaceira, do Teatro Andaime. O Garapa fica à Rua D. Pedro II, 1.313 – Bairro Alto, e os ingressos (10 reais, int.; e 5 reais, meia) estarão à venda a partir das 18h.

8 de junho de 2010

Pedaços do incomensurável

A imagem aqui reproduzida é uma das geniais ilustrações do alemão Wolf Erlbruch. Ela combina com a frase do escritor austríaco Stephan Zweig: “Os livros são pequenos pedaços do incomensurável”. Precisa dizer mais?

6 de junho de 2010

‘Persona’, de Bergman: projeção e debate

O filme Persona, do diretor sueco Ingmar Bergman, será objeto da segunda jornada do “Sessão3C – Cinema, Conceito e Crítica”, promovido pelos alunos do curso de Filosofia da Unimep. Após a projeção, haverá um debate com a participação dos professores Márcio Mariguela, psicanalista e doutor em filosofia da educação, Telma Regina de Souza, doutora em psicologia social, que discutirão o tema “Identidade”.

Segundo Natália Puke, um dos organizadores do evento e aluna do curso, esses encontros “visam a provocar o exercício do pensar por intermédio da linguagem cinematográfica: a proposta é possibilitar a interlocução entre os diversos saberes, de tal modo que, permita reflexões sobre as problemáticas subjetivas e socioculturais que permeiam a realidade contemporânea”.

A sessão de Persona ocorrerá em 11/jun. (sexta), às 19h30, no Auditório Verde do bloco 2, no campus Taquaral. O evento é gratuito e aberto ao público; para os universitários da Unimep a participação valerá como atividade extra-curricular.

Ficha técnica Escrito e dirigido por Ingmar Bergman, 1966, 82’; com Liv Ullmann (Elisabeth Vogler), Bibi Andersson (Alma), Gunnar Björnstrand e Margaretha Kroo.

Sinopse Alma, uma jovem enfermeira, deve cuidar de Elisabeth Vogler, atriz que, apesar de boa saúde, durante uma apresentação de Elektra, emudece. Com a convivência, a relação das duas ganha intimidade, mas acaba por se mostrar falsa. Alma fala o tempo todo a Elisabeth, inclusive sobre alguns segredos, nunca recebendo resposta. O silêncio não parece ser uma escolha para Elisabeth; Alma, no entanto, tem um desejo físico pela palavra e logo percebe que sua personalidade está sendo submergida na de Elisabeth.

5 de junho de 2010

Tudo o que Manoel de Barros não inventa é falso

De acordo com o poeta sulmatogrossense, a poesia não é para ser descrita; é para ser descumprida. Essas, entre outras preciosidades, são ditas pelo próprio Manoel de Barros, em Só Dez Por Cento é Mentira.

O documentário dirigido, roteirizado e narrado pelo jornalista e cineasta pernambucano Pedro Cezar constrói um painel revelador da linguagem do poeta a partir de seus versos, de entrevistas inéditas com o escritor e de depoimentos de leitores admiradores de sua obra, entre eles, Adriana Falcão e Jaime Leibovicht.

Consagrado por diversos prêmios literários e atualmente o escritor brasileiro que mais vende livros de poemas (possui cerca de 20 títulos publicados), Manoel de Barros tem 93 anos de idade e vive em Campo Grande (MS).

Só Dez Por Cento é Mentira ganhou, em 2009, os prêmios de melhor documentário longa-metragem do II Festival Paulínia de Cinema e de melhor direção e melhor documentário do V Fest Cine Goiânia. Vale conferir o trailer para ter uma melhor ideia ainda do poeta, considerado entre os mais inovadores em língua portuguesa.

3 de junho de 2010

Freud e o seu 'Psicopatologia do Cotidiano'

O livro Psicopatologia do Cotidiano, de Sigmund Freud, serve de título e à abordagem do artigo do psicanalista Márcio Mariguela, veiculado neste sábado (5/jun.), na folha A3 do Jornal de Piracicaba. Esta obra, de 1901, tornou-se, na primeira metade do século passado, a mais popular publicação de Freud.

Entre outros rebatimentos, ela estabeleceu o elo dos surrealistas com a psicanálise, que viram no apresentado pelo livro “a possibilidade de conceber a arte como expressão do desejo recalcado: por meio da forma assumida pelo desejo e pelo modo como este simbolizava as aparências nos atos falhos e lapsos, assim como nos sonhos”, como destaca Mariguela. Ao mesmo tempo esse emprego de Psicopatologia do Cotidiano pelos surrealistas propiciou, principalmente na França, maior visibilidade à invenção freudiana, o que foi importante para os passos iniciais da psicanálise.

Leituras de Freud – A publicação desse artigo por Mariguela traz outra indicação ao público piracicabano e regional. No início do próximo semestre, terá início o Grupo de Estudos Leituras de Freud, coordenado pelo próprio Mariguela, tendo por eixo central as obras principais utilizadas por Jacques Lacan em seu retorno à teoria e prática clínica de Freud. E, justamente, a psicopatologia é um desses tópicos.

Os encontros desse grupo se darão a cada quinze dias, às 2.ª-feiras, das 19h30 às 21h30, na Clínica de Psicanálise (R. Prudente de Moraes, 1.314 - Bairro Alto/Piracicaba). Maiores informações: mmariguela@gmail.com.

Você sabe o que é folkcomunicação?

Se o que você conhece de folclore limita-se à leitura dos livros de Monteiro Lobato, às velhas histórias do seu tio-avô ou ao sabor do cuscuz da festa do Divino, você não pode perder o Educativa nas Letras deste final de semana! Em pauta, a força da folkcomunicação! Ah... você não sabe o que é folkcomunicação? Então você não pode mesmo perder o próximo Educativa nas Letras.

Para falar sobre esse tema, o Educativa recebe, neste sábado (5/jun.), às 10 da manhã, com reprise no domingo (6/jun.), às 9 da noite, a visita do publicitário e mestre em marketing político Victor Kraide Corte Real. Num bate-papo descontraído, Victor dá uma verdadeira aula sobre a presença do folclore na comunicação social e, em especial, na área da publicidade e da propaganda.

O Educativa nas Letras vai ao ar na Rádio Educativa FM de Piracicaba 105,9 Mhz, podendo ser acompanhado pela web. Mais informações no site do programa.

Texto: Alexandre Bragion. Foto: Jac©Edit

1 de junho de 2010

Ferreira Gullar vence o Prêmio Camões

Crítico de arte, biógrafo, tradutor e ensaísta. Mas, antes de tudo, poeta. E dos grandes. Assim reconhecido, e aclamado, às vésperas de completar 80 anos de idade, Ferreira Gullar acaba de receber a mais importante distinção literária em língua portuguesa. Trata-se do Prêmio Camões, instituído em 1989 pelos governos português e brasileiro, e concedido, desde então, anualmente pelo Instituto Camões e pela Fundação Biblioteca Nacional.

O anúncio do vencedor foi feito nessa 2.a feira, em Lisboa, pela ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas, e pela comissão julgadora, durante cerimônia no Museu Nacional de Arte Antiga. De acordo com o texto assinado pelos seis membros do júri, o critério adotado para a escolha de Gullar foi “a alta relevância estética de sua obra, em especial a poesia, incorporando com mestria tanto a nota pessoal do lirismo quanto a defesa de valores éticos universais”. Ele é o segundo poeta brasileiro a receber tal honraria – em 1990, João Cabral de Melo Neto a recebeu.

Enquanto seu nome era escolhido em Portugal, Gullar viajava pelo interior paulista como convidado do projeto Viagem Literária, promovido pelo governo do Estado de São Paulo.

Natural de São Luís do Maranhão, Ferreira Gullar já havia recebido, em 2007, o Prêmio Jabuti, concedido pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, e, em 2005, o Prêmio Machado de Assis, a maior honraria da Academia Brasileira de Letras. É autor, entre outros, de Poema Sujo (1975), avaliado como “o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas” por ninguém menos do que o poetinha Vinicius de Moraes.

Para deleite geral, segue reproduzido o poema “That is the question”:

....Dois e dois são quatro.
....Nasci cresci
....para me converter em retrato?
....em fonema? em morfema?

....Aceito
....ou detono o poema?

Em Muitas Vozes: poemas, Ferreira Gullar, 1999.
Foto: Wilton Junior/AE, publicada no Portal Literal.