9 de março de 2011

Pensamento de Foucault ganha três novas publicações

Acabam de chegar ao público brasileiro três novas publicações sobre o pensamento de Michel Foucault (1926-1984). Em Foucault e a Revolução Iraniana (Editora É, trad.: Fábio Monteiro de B. Farias, 480p., R$ 89,00), Janet Afary e Kevin B. Anderson trabalham os artigos escritos pelo filósofo francês sobre o conflito que, em 1979, levou o aiatolá Ruhollah Khomeini ao poder no Irã, lá estabelecendo uma teocracia islâmica. Foulcault chegou a apoiar, num primeiro momento, os fundamentalistas religiosos que derrubaram a monarquia autocrática pró-ocidental do xá Reza Pahlevi, conflitando com intelectuais contemporâneos seus, que viam no novo regime a representação do confronto entre o mundo religioso arcaico e a modernidade laica.

Em defesa do autor de Vigiar e Punir (1975), que em 1978 visitou o Irã como correspondente do jornal Corriere della Sera, haveria o fato de ele ter sido “tocado pelo heroísmo das multidões iranianas diante da polícia e do Exército do xá", segundo o historiador Paul Veyne, amigo e colaborador do filósofo, conforme o livro Foucault: seu pensamento, sua pessoa (Civilização Brasileira, trad.: Marcelo Jacques de Morais, 256p., R$ 32,90). Para Veyne, Foucault teria ultrapassado a neutralidade e tomado o partido dos revoltados, “sem esperar para ver se o islamismo não daria razões para a indignação dignas de suscitar revoltas pontuais”. Em síntese, Foucault focou sua visão na revolução iraniana como a luta da libertação de um povo.

Completando os lançamentos, no ano em que o pensador francês faria 85 anos de idade, está Como Ler Foucault (Zahar, trad.: Maria Luza X.A. Borges, 144p., R$ 30,00), no qual Johanna Oksala, pesquisadora da Universidade de Helsinque, Finlândia, tem propósito didático. Ela busca traduzir o discurso de Foucault e – como indica Antonio Gonçalves Filho, em seu artigo “Foucault e o Islã, mistura explosiva” – “ver em que ponto o nietzschiano filósofo aproxima-se de Heidegger - simpatizante e colaborador de outro regime obtuso, o nazista, nunca é demais lembrar”.

A propósito: em 2011 ainda se comemora meio século da publicação de História da Loucura (Perspectiva, 2004, 7.a ed., 558p., R$ 50,00), em que Foucault destrói a concepção do internamento como única solução para lidar com a loucura e ataca o domínio exercido pelas concepções médicas em seu tratamento. Para ele, a loucura não é uma entidade fixa, mas sim construída tanto social e politicamente quanto medicamente. Leitura fundamental, diga-se.

Conheça mais o filósofo francês em ‘Espaço Michel Foucault’.

Um comentário:

  1. Valeu Heitor!!!
    a atualidade das posições de Foucault diante da revolução iraniana esta aí para demonstrar o que Hegel chamava de "Espírito do Tempo". A situação no norte da África e o impasse diante de Gadafi demonstram um cenário interessante e trágico para reler Foucault

    abçs,
    Màrcio

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