18 de julho de 2012

Jornalismo, política e literatura na 'piauí' de julho

A qualidade da revista piauí nada tem de novidade. Seu número 70 (jul./2012) não faz diferente. Mas nele duas matérias têm destaque garantido: ‘Escândalos da República 1.2’ (p. 26) e ‘Depois da Lavoura’ (p. 60). A primeira é assinada pelo jornalista Mario Sergio Conti, atual apresentador do 'Roda Viva', da TV Cultura, e a outra pelo editorialista da Folha de S.Paulo Rafael Cariello.
     ‘Escândalos da República 1.2’ é a versão reduzida do inédito posfácio à segunda edição de Notícias do Planalto. A imprensa e Fernando Collor (Companhia das Letras, nov./99), tido como a mais relevante publicação brasileira na área do jornalismo político. No livro, Conti entrelaça a história da derrubada do primeiro presidente democraticamente eleito após a ditadura militar com as pouco edificantes histórias de pelo menos 17 órgãos de nossa imprensa. O posfácio, que chega a público no final deste mês na nova edição, mostra onde foi parar parte dos jornalistas que cobriram o impeachment de Collor e o que aconteceu com a imprensa desde então.
     “Os jovens repórteres que expuseram o governo Fernando Collor não apuram mais notícias do Planalto. Cada qual teve razões particulares para isso”, afirma Conti na abertura do texto. “Mas o denominador comum dos que abandonaram a imprensa foi terem ido trabalhar em empresas, suas ou de outros, que se dedicam a atender políticos profissionais, homens de negócio e instituições. Agora são assessores de comunicação, relações públicas e publicitários. (...) Gerem gabinetes de crise, contratados por gente de bens denunciada nos órgãos de imprensa nos quais antes trabalhavam. Quem ontem apontava as dissonâncias entre o marketing e a realidade é hoje marqueteiro.”
     O veterano Alberto Dines, ao analisar tal posfácio em ‘Jornalismo, o estado da arte’ (Observatório da Imprensa, ed. 702), ressalta que, passados treze anos da atuação desses profissionais, muitos deles estão exercendo acriticamente o inverso do jornalismo: “o saldo é melancólico. Os mais atilados buscadores de fatos transformaram-se ao longo de pouco mais de uma década em prodigiosos produtores de factoides. Nada contra: relações públicas é uma atividade legítima, lobby também será quando regulamentado. Jornalistas românticos inspirados em Hollywood têm o direito de mudar de ramo. E de sonhos”.
     ‘Escândalos da República 1.2’ dispõe ainda ótimo material sobre o uso sistemático de marketing milionário nas campanhas eleitorais, no que Collor foi o precursor. E como essas campanhas, desde então, são estruturadas em tais artifícios, sempre se valendo de profissionais do jornalismo e da propaganda regiamente pagos. Todos – incluindo aí, antes de mais nada, os próprios políticos – convencidos de modo cabal, após a queda de Collor, da necessidade de reforçar a influência sobre aquilo que repercute na imprensa e na opinião pública.
     Mais do que o nome dado aos bois, a abrangência da análise de Conti empresta muitos elementos para se entender o perverso quadro da atual política brasileira e como inúmeros profissionais de outros segmentos são também responsáveis por isso. Trata-se, certamente, de leitura obrigatória.

Preferência pelo silêncio – O artigo ‘Depois da lavoura’, de Rafael Cariello, a pretexto de falar sobre a doação feita pelo escritor Raduan Nassar de sua fazenda Lagoa do Sino à Universidade Federal de São Carlos, se presta a dar mais cores às ‘fugas’ que compõem a trajetória desse enigmático autor paulista, trinta anos após ele deixar a literatura. Mesmo com a repercussão alcançada com Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978), no início dos anos 80 Raduan anunciou que interrompia a carreira literária, passando a se dedicar à irrigação de arroz, engorda de reses, plantio e colheita de grãos. Foi exatamente o que ele fez, até agosto do ano passado, quando formalizou a transferência da propriedade agrícola, no município de Buri, a 250 quilômetros de São Paulo.
     Mantendo-se por décadas em silêncio quase absoluto com a imprensa, o escritor causou muito impacto com seu afastamento da literatura, em pleno ápice de sucesso. Apesar de ainda ter publicado o livro de contos Menina a Caminho (1997), a falta de maiores explicações para esse desligamento permanece com ares de mistério. No texto para a piauí, Cariello cita o ensaio da crítica Leyla Perrone-Moisés, de 1996, em que ela afirma que o ‘impaciente’ Raduan “finge não acreditar no valor da literatura apenas porque sua ação no mundo não é imediata e visível”. Para concluir: “Esperemos que, se Raduan abandonou a literatura, a literatura não o tenha abandonado, e o traga de volta a seus leitores”.
     Nos anos 80, o escritor optava por um mundo rural ainda pouco produtivo e visto como arcaico. Assim, a perplexidade então causada levou também a reações mais duras. O jornalista José Castello escreve em 1999 que “Raduan Nassar não suportou ser um grande escritor e desistiu da literatura para criar galinhas”. “Trocou a criação estética, que é complexa e desregrada, pela mecânica suave da avicultura, e parece muito satisfeito com isso, tanto que, resistindo a todos os apelos, se recusa a voltar atrás em sua decisão”.
     É consenso, contudo, que a obra de Raduan, apesar de curta, o projetou a um nível invejável na literatura brasileira da segunda metade do século XX, obtendo incontáveis traduções mundo afora e adaptações para o cinema. Por isso, se o fio condutor do texto de Rafael Cariello na piauí é o histórico de sucesso comercial obtido por Raduan em sua empreitada agrícola, ele ressalta mesmo são as condições da doação da fazenda, após quase três décadas de trabalho do escritor, entregando-a em plena produção e com alta rentabilidade. Contudo, no artigo de Cariello, essa mais nova provocação de perplexidade que Raduan possa provocar se presta a um olhar sobre os vários momentos de quebras e recomeços marcantes na trajetória da própria vida do autor de Lavoura Arcaica.
     Por sinal, este, que é o mais badalado dos seus livros, é exatamente a história de uma fuga – e de suas consequências. Em outra rara entrevista de Raduan (Veja, final dos anos 90), citada por Cariello, ele comenta esse percurso de vida incomum que o transformava em objeto de contínua curiosidade: “Abandonei o curso científico e pulei para o clássico, abandonei um curso de letras na universidade, o curso de direito no último ano, a empresa familiar assim que meu pai faleceu. Abandonei ainda uma criação de coelhos, o jornalismo e outras coisas mais. Tudo somado, só levei a pecha de inconstante. Por que só quando abandonei a literatura eu teria me transformado em personagem fascinante?”.
     O questionamento constitui expressão viva da personalidade do escritor. Ao leitor, particularmente àquele cativado por suas três obras, interessa não só a literatura, mas a vida mesma, por vezes enigmática, de Raduan Nassar. Daí, também, a relevância desse artigo de Cariello na piauí de julho.

Foto Jac©Edit : Raduan Nassar durante lançamento do livro Ilogicamente, de Newman Simões (Jacintha Editores), em maio de 2010.

5 de julho de 2012

Dicas para a segurança de crianças e adolescentes

Questões essenciais de segurança voltada a crianças e adolescentes, tanto no âmbito doméstico como nas ruas de nossas cidades, são o objeto do manual concebido pelo Cel. Ricardo Jacob e produzido pela Jacintha Editores. Em Dicas Básicas de Segurança, esse oficial da Polícia Militar de São Paulo traz orientações a pais e adultos em geral sobre temas como guarda de medicamentos, cuidados específicos em áreas da casa como cozinha, varandas e escadas, e ainda atenções especiais exigidas no trato com bebês.
     Além disso, sempre pautado por um texto claro e objetivo, todo complementado por ilustrações coloridas, a publicação é voltada, em sua segunda parte, diretamente a adolescentes. Nela, Cel. Ricardo compartilha seu profundo conhecimento, como especialista em legislação e logística de segurança, em aspectos como atenções fundamentais na proteção da residência, em contatos telefônicos e na convivência nas ruas. São abordados também assuntos ainda mais corriqueiros no dia a dia da atual juventude: os riscos muitas vezes presentes no emprego da tecnologia, por exemplo, de internet e celulares.
     Com projeto gráfico da Act Design e ilustrações assinadas por Freire, Dicas Básicas de Segurança teve distribuição gratuita: http://ricardojacob.org/ ou coronel@ricardojacob.org.
Dicas Básicas de Segurança para crianças e adolescentes, Coronel Ricardo. São Paulo: Jacintha Editores, 2012; 48p.; 18 cm; proj. gráf.: Act Design; ilustr.: Freire.

4 de julho de 2012

São Bento do Sapucaí, referência artística

A simpática São Bento do Sapucaí, a 185 km da capital paulista e a leste do estado de São Paulo, nos contrafortes da Mantiqueira, é atração turística tanto como estância climática quanto por se constituir em polo cultural da região. Possivelmente atraídos pela natureza exuberante do lugar, chama a atenção o número de artistas, escritores e poetas estabelecidos na cidade e as atividades por eles produzidas.
     É assim que, no próximo sábado (7/jul.), será inaugurada a I Exposição de Arte São Bento do Sapucaí, na Casa da Cultura Miguel Reale. O evento coletivo contará com trabalhos dos artistas plásticos Adriana A.R. Santos, Billy Gibbons, Célia Santos, Ditinho Joana, Feh Prado, Felipe Cação, Juliana Chagas, John Chien, Luis Rosa, Lanuel Cação, Marcos Guedes, Mariana Abdala, Nelson Screnci, Roberto Rocha Pombo e Theodoro.
     No material promocional da exposição aqui reproduzido, eles estão diante da Capelinha de Mosaicos, uma das mais belas atrações de São Bento. Restaurada pelos artistas plásticos Angelo Milani e Cláudia Villar, essa imperdível capela já também objeto de outra matéria neste blog: ‘São Bento do Sapucaí, trilhas e montanhismo nesse inverno’.

Exposição de Arte São Bento do Sapucaí – Casa da Cultura Miguel Reale: Rua Sargento José Lourenço, 105; São Bento do Sapucaí/SP; (12) 3971-1665; inauguração: sáb. (7/jul.), às 19h; de 8/jul. a 8/out./2011, das 9h às 18h.