12 de dezembro de 2013

O rinoceronte invade o Parque da Água Branca

O Rinoceronte, a obra de Ionesco não está limitada a uma interpretação “como documento dum tempo passado”, algo que ele próprio temia. Em uma sociedade de massas conduzidas pelo consumo e uniformização de personalidades, as críticas rinocerônticas da peça mantêm-se atualíssimas.
Passados mais de 50 anos da primeira publicação de
     O resultado da conclusão de curso de Olívia de Castro, em direção teatral, no Departamento de Artes Cênicas (CAC/ECA/USP), tem suas últimas apresentações neste fim de semana, no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo. Ao sair da sala fechada, e romper com a tradicional relação palco-plateia determinada pelo palco italiano, o intuito foi justamente explorar os recursos do espaço público. “Buscamos o alimento da nossa criação nas variáveis de arquitetura e dinâmicas do parque, e no próprio ato de ‘flanar’ dos seus usuários”, comenta Olívia.
     O público sempre foi um dos maiores focos da pesquisa da nova diretora. E agora tem como objeto os transeuntes desprevenidos do Parque da Água Branca, em meio a galos, pavões, galinhas-de-angola e gatos soltos, que tanto caracterizam o lugar. “Quem são os espectadores, como reagimos a eles, como eles reagem a nós e à história que estamos contando são questões que nos acompanharam nesse processo”, disse ela.
     O espaço escolhido é o de experiências extra-cotidianas, um refúgio típico em uma grande cidade. Para a diretora, com essa intervenção artística, o público poderá transformar sua relação habitual com o parque, criando uma nova visão do lugar. “Isso permite provocar a aproximação e interesse do público, e mesmo aumentar sua interação, com a possibilidade de participação direta na cena, dada a indefinição entre ator/espaço cênico e o público”, completa ela.
     Apesar da temática densa da peça, a montagem produzida  nessa intervenção espacial tem despertado a participação de um vigoroso público infantil. “A relação das crianças foi absolutamente surpreendente. Acreditávamos que seriam atraídas pelas cenas, se aproximariam, tentariam assistir por alguns instantes, mas acabariam não entendendo o texto complexo e indo simplesmente embora”, declara Olívia. “Mas elas se tornaram a maior parte do nosso público! São as primeiras a chegar e permanecem com a gente até o fim, muitas vezes brigando com os pais para poderem ficar.”

Ficha técnica
. O Rinoceronte (livre adaptação da Cia Céu Aberto da peça de Eugène Ionesco)
. Direção: Olívia de Castro
. Atuação: Aline Alves, Laura Amaral, Marília Persoli, Marina Di Giacomo, Olívia de Castro e Renata Falcone
. Orientação: Maria Thaís
. Direção musical: Francisco Lauridsen
. Concepção das máscaras: Elisa Inácia

Entrada gratuita, classificação livre.
Ponto de encontro no Parque da Água Branca: entrada principal (Av. Francisco Matarazzo, 455 - Barra Funda, São Paulo)
De 13 a 15/dez. : sexta 18h  |  sáb. e dom. às 11h