
O propósito dela é colocar-se, como escritora e psicanalista, no exercício efetivo da constatação de que – assim como no amor – a arte e a psicanálise só acontecem no encontro com o outro. Porém, esse encontro raramente vê-se facilitado quando este outro se dispõe a ouvir o que foge à razão. As Almofadas de Amélia ocupa, justamente, espaço próprio em oposição a tal tendência.
Quando muitas obras do mercado editorial pouco respeitam a angústia existencial que marca nossa era, Dorothee, que elegeu o Brasil para fincar raízes, deixa-se publicar sem respostas acabadas. Mas, decerto, faz do relato de seu percurso íntimo um olhar oportuno sobre uma sociedade em transição, olhar esse marcado essencialmente pela presença do feminino a cada dia a se redescobrir.
É por essas e outras que as Amélias estão em extinção. Mulher de verdade mesmo é a que está surgindo neste mundo globalizado. Com garra, têm mantido o sensível como diferencial sobre o predomínio masculino – ainda que sem negar seus conflitos e contradições. Exatamente como Dorothee vem a público, por meio de suas crônicas. Com verve e fina criticidade, não poupa nem o universo feminino.
Se muitos maridos transformaram-se em almofada, “enfeitando o sofá da sala”, é porque não raro eles viraram estampa ao sucesso da nova mulher. Segundo a crônica “O homem troféu”, a mulher atual “ainda sustenta uma espécie de patriarcado postiço. (...) viver sem um reizi- nho mandão em casa seria um desastre. Para que, afinal, ela beijou o sapo? Para ter um príncipe com uma longa espada dependurada na cintura!”. Ao fim, ele assim representa um prêmio pela luta incansável que esta nova Amélia trava no dia a dia globalizado...
As Almofadas de Amélia: crônicas sobre a condição feminina
DOROTHEE RÜDIGER
ISBN 978-85-60677-06-1; 170p.; [no prelo]
Piracicaba: Jacintha Editores, 2009
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