O filósofo francês Claude Lefort morreu domingo passado aos 86 anos, noticiou hoje o diário francês Libération. Autor de consistente crítica do totalitarismo e de obras como A Invenção Democrática, nas quais defende que, numa sociedade democrática, o povo no poder é um princípio simbólico, não real, e, mais do que isso, irrealizável (pois a “precipitação do simbólico no real” causaria a sua perda). Pensamento este não só nada convencional, mas mesmo desconcertante.
Nascido em 1924, Claude Lefort era doutor em filosofia, lecionou na Universidade de Caen e tornou-se diretor na Escola de Altos Estudos e Ciências Sociais francesa. tendo também dado aulas na Sorbonne e na Universidade de São Paulo. Sempre crítico à antiga União Soviética e sua estrutura, foi marxista e trotskista, mas acabou afastando-se progressivamente de tais correntes. Fundou, junto com Cornelius Castoriadis, a revista e o movimento ‘Socialismo ou Barbárie’ (1948-1965), ligados ao libertarismo socialista. Escreveu também para a importante revista cultural Les Temps Modernes e dedicou grande parte da sua obra à análise do fenômeno totalitário e das carências da democracia.
Trata-se de uma questão mais que atual, principalmente quando em vários países latino-americanos são identificados crescentes movimentos de governos totalitários e explícitos ataques a um dos sustentáculos democráticos, a imprensa livre. Foi justamente para esmiuçar tal intrincada forma de conceber o modelo de democracia lefortiano que a Jacintha Editores acaba de publicar o oportuno O Enigma da Democracia. O pensamento de Claude Lefort, de Luciano Oliveira.
Resta aqui nossa homenagem ao grande pensador francês.
Foto: Aldo Soares, 1999
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