25 de fevereiro de 2010

O que esperar do jornalismo e do seu ensino nas faculdades

Ontem à noite (24/fev.), discutindo com alunos meus do curso de jornalismo o artigo “Em busca de um jornalismo para o século 21”, do jornalista e escritor argentino Tomás Eloy Martínez (vale a pena acessar a íntegra do texto, em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=576IMQ007), entre tantos outros tópicos interessantes que ele nos faz refletir, resvalamos, uma vez mais, na velha e batida questão sobre o contraste entre a “visão romântica e utópica” aprendida nas faculdades e a perversa realidade das redações e das assessorias de comunicação, notadamente fora do grande circuito das metrópoles e grandes cidades brasileiras.

Segundo alguns desses estudantes, de um lado estamos os professores a insistir em preceitos éticos na prática jornalística, no incentivo à investigação criteriosa dos fatos, na procura de fontes e personagens paradigmáticas ao relato de todos os ângulos de uma notícia. Durante todo o curso, estimulamos o esforço, a precisão, a entrega do futuro jornalista em aprimorar o texto, ir além dos limites da pirâmide invertida, trazendo à narrativa testemunhas que tornem a notícia mais viva, em vez de se contentar em produzir meros relatórios e reproduzir apenas o velho engessamento de, nas primeiras linhas da notícia, responder às seis clássicas perguntas (o que, quem, onde, quando, como e por quê). Já na outra ponta, no outro extremo mesmo, ainda de acordo com esses alunos, estariam então as redações e assessorias de imprensa/comunicação, um tanto desatentas a praticamente todos esses valores cultivados na faculdade.

Diante de tamanho contraste que me é trazido com frequência à sala de aula, e que aponta o perigo de causar em jovens estudantes e jornalistas certo conformismo e cômoda adaptação, e, quem sabe por isso, levá-los a abrir mão de “mergulhar” nos conceitos e práticas do bom jornalismo – que, por sinal, é sim produzido no Brasil e no mundo –, me preocupo. E pergunto: qual a expectativa dos jovens nessa profissão?, o que esperam dela e de nós, profissionais e professores, para que enxerguem mais do que uma luz no fim do túnel?

16 comentários:

  1. sou estudante de jornalismo e acho que tudo deve partir dos professores.
    É claro que se o aluno não for aplicado e interessado em aprender e exercer um bom jornalismo o professor em si não importa em nada, porem existe muita gente boa querendo melhorar nossa profissão, basta apenas os professores nos darem um bom encaminhamento e uma boa teoria, porque na pratica a gnt tem vontade de sobra e vamos conseguir !

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  2. A verdade, penso eu, é que as empresas de comunicação e cada uma a seu modo, ditão como será feito o trabalho do profissional de jornalismo e não a faculdade ou professores.
    A realidade deste profissional está mesmo distante do que é discutido nas salas de aula, Vai se fazer o que? Jornalismo não é apenas um dom ou coisa do tipo, é um negócio. E como todos, deve trazer dinheiro aos chefões.

    Bjo Milena!

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  3. (...)"Durante todo o curso, estimulamos o esforço, a precisão, a entrega do futuro jornalista em aprimorar o texto, ir além dos limites da pirâmide invertida, trazendo à narrativa testemunhas que tornem a notícia mais viva, em vez de se contentar em produzir meros relatórios e reproduzir apenas o velho engessamento de, nas primeiras linhas da notícia, responder às seis clássicas perguntas (o que, quem, onde, quando, como e por quê).(...)

    Ultimamente tem sido interessante discutir o jornalismo, portando darei minha contribuição aqui.

    No trecho de seu texto que eu colei acima você diz que durante o curso fomos "estimulados" a sair do "feijão com arroz" digamos assim, a pirâmide invertida, lead, o tal engessamento.

    Isso não é bem verdade, no fim do último semestre que fomos "autorizados" a tentar criar um texto mais elaborado, antes disso eramos repreendidos aos fazermos isso. Concordo que é tudo ao seu tempo, e que não estávamos preparados ainda. Diferente de agora que devemos ir além do básico.

    E o que esperar do jornalismo? O jornalismo está em constante transformação e as empresas de comunicação em constante adequação de seus produtos jornalísticos. Existem os mais variados seguimentos e cabe a cada um de nós procurar a empresa que melhor satisfaça nossos anseios.

    Eu espero escrever grandes textos e contar boas histórias.

    Já que o questionamento é: O que esperar do jornalismo. Postei em meu blog uma postagem sobre o salários dos jornalistas, se interessar o link é

    http://oquerolanamidia.blogspot.com/2010/02/salariometro.html

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  4. Concordo com a Cintia. Acredito que mesmo a base de professores e o incentivo a um jornalismo mais amplo. na correria do dia a dia e as metas é feito do profissional algo muito mais reduzido a fins da propria empresa jornalistica.

    Desde já, parabéns pelo trabalho Milena
    :D já adorei saber que terei você como Professora (:
    :*

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  5. Eu vejo que muitas coisas que aprendi na faculdade serão úteis no exercício da minha profissão, mas vejo também que isso varia muito do veículo ao qual eu estiver empregado. Vejo o jornalismo atual com muito interesse e pouco comprometimento, muitas notícias são dadas, pois gerou algum tipo de interesse a Fulano ou Beltrano e não pela investigação, precisão que o jornalismo sempre cobra no seu dia a dia.

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  6. Penso que não podemos aceitar essa "realidade" do jornalismo como absoluta. Somos ainda estudantes e constantemente incentivados por nossos professores a fazer um jornalismo diferencial, ou ao menos quase perto do que aprendemos na teoria. Portanto, não vamos guardar o que aprendemos e sim, vamos tentar botar em prática. Afinal de contas é para isso que estudamos e ralamos para pagarmos nossas mensalidades,tenho certeza que faremos jus a isso.

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  7. Como já mencionado pelo Carlos, no primeiro e em parte do segundo ano éramos, de certa forma, "obrigados" a escrever no formato padrão - lead. Ousar não era muito bem aceito, mesmo porque os professores julgavam que ainda não estávamos bons o suficiente para sair do habitual.
    Hoje eles nos cobram o inverso. Ousadia pra nos distacarmos diante da concorrência. O que também acho que seja necessário, porém, se lá no começo, juntamente com a teoria ensinada, fossemos estimulados ao novo, talvez até o final dos quatro anos de faculdade os alunos não teriam tantas dificuldades em romper com os paradigmas da hora de se transmitir os fatos.

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  8. Êpa. Acho bom a gente colocar uns "pontos nos is". Parece que está havendo uma confusão quanto à tal pirâmide invertida. Em nenhum momento eu -- a memória nesse caso não me falha! -- e nossos outros professores -- tenho certeza de que posso também falar por eles -- "cobramos" de vocês o engessamento às seis clássicas perguntas. A questão está em que, para chegar a escrever bons textos jornalísticos, a gente vai fazendo exercícios de texto, amadurecendo o estilo, superando etapas e ousando. Aos poucos. Isso tudo, sem perder de vista que o texto é jornalístico, portanto, tem códigos próprios. Que vocês ainda estão aprendendo. Isso vale pra tudo na vida. Antes de andar os bebês em geral engatinham. Ou alguém aí já nasceu encarando maratonas e/ou dominando alguma língua?

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  9. De fato que não Milena, mas a grande discussão bate em cima do futuro do Jornalismo, buscando as possíveis soluções que vão de encontro justamente ao texto, mesmo porque as imagens já falam muitas vezes por si próprias.
    Agora em se tratando do que aprendemos na faculdade e o que encontramos na prática, sem dúvidas as realidades são opostas. No entanto, não vejo nenhum desmérito do campo universário em nos passar uma teoria "surreal". Acredito ainda que sem ela jamais nos depertaria em algum dado momento de nossas vidas o pensamento de que "podemos mudar o mundo", que é fruto de uma imaginação revolucionária e sonhadora, porém, fundamental para que acreditemos que se fizermos nossa parte o futuro do Jornalismo será promissor.

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  10. Creio que a polêmica levantada em sala de aula não surgiu apenas pelas questões de ousar no texto, quebrar aquela coisa "engessada" das redações e tudo o mais. O problema está no fato de alguns estudantes de jornalismo já terem se rendido às "manipulações" do mercado de trabalho antes mesmo de terminarem o curso - tirando visões preconceituosas e precipitadas com base em uma única experiência profissional. Claro que todos nós sabemos que os empregos na área não são nenhum mar de rosas, mas creio, por experiência própria, que podemos fazer sim um bom jornalismo e sairmos do conformismo, mesmo dentro dos limites impostos pelos donos do "negócio". Se não houver dentro de cada um de nós o desejo e a consciência de que podemos, com as pequenas coisas do dia-a-dia, fazer um jornalismo diferente do da maioria, creio que não há razão para continuar. Trata-se apenas de coragem, somada é claro ao bom-senso, para sairmos da mesmice!

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  11. Eu acredito que o foco da Milena neste post era para mostrar sua preocupação com os futuros jornalistas. O que entendi é que há uma preocupação dos mais experientes com os que estão formando suas idéias e se preparando para a área.
    Eu sou novato na faculdade de jornalismo, estou no começo do curso ainda. Já estudei em um outro ramo totalmente diferente, por isso, posso afirmar que final, na minha formação, me decepcionei sim com alguns dos meus professores, mas a maior decepção foi comigo mesmo. Não tive a capacidade de perceber durante todo o estudo que eu poderia ter aprendido mais com os experientes, que cabeçadas seriam evitadas com algumas dicas e que eu poderia ter feito algo mais, e isso me ajudaria após a conclusão do meu curso. Acho que no jornalismo, não é diferente. Sei um pouco da dificuldade que enfrentaremos nos jornais, empresas ou nas agencias que trabalharemos, mas não consigo creditar o fracasso de uma nova geração à professores ou aos locais de trabalho. Acho que a diferença pode ser feita quando nós mesmo queremos e buscamos fazer. Digo isso, porque eu não fiz a diferença no meu outro curso e sinceramente, quero mudar minha história e sei que SÓ EU POSSO FAZER ISSO! Essa é minha opinião ... opinião de um novato.

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  12. ( Dora )

    Acredito que o mundo sem utopia seria um tédio. Então, vamos continuar a fazer do estudo do bom jornalismo uma prática, porque se desistirmos, o que será dos futuros textos jornalísticos? Se agora está ruim, vamos cuidar para que não piore.
    MInha mãe trouxe de uma viagem ao Rio de Janeiro um jornal ( nível estadual)no qual traziam manchetes com o português vergonhoso, grosso e coloquial: " POLICIAIS BOTAM PRA CORRER ASSALTANTES", entre outros que não me recordo no momento.
    Ou seja, diante de situações como essas não devemos nos desanimar e sim ter o sentimento de tentar MODIFICAR o que está errado, porque se não fizermos, quem fará?
    Opinião de uma novata!!!

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  14. A verdade... (não me arrisco a começar desta forma), mas a minha desconfiança sobre o que, de fato, poderia ser considerado verdade é que este dilema não é exclusivo à profissão do jornalista. Sim, estamos todos sujeitos à necessidade do trabalho, do dinheiro e das empresas de comunicação como um todo. Contudo, é preciso ponderar: a ética e os valores individuais vem muito antes da formação (embora estejamos sempre, como humanos, em desenvolvimento e aperfeiçoamento das falhas). E isso se aplica a todas as profissões. Na minha opinião, é possível trabalhar em veículos ponderando para que estes não firam o bom jornalismo e, com isso, prejudiquem a sociedade que depende do trabalho destas empresas. Sim, creio que seja alcançável porque quem entende de jornalismo é o jornalista e cabe a ele, muitas vezes disfarçadamente, tentar melhorar seu trabalho e tornar mais próximo da verdade o veículo. Se não for ele, ninguém o fará. Um ponto importante é que, para qualquer decisão, mesmo que involuntariamente, é preciso ser parcial. Portanto, o texto sempre terá algo da personalidade do jornalista, algo de quem escreveu, é improvável ser isento de tudo, como quem escreve de forma impessoal. Quem escreve, assim como quem lê, é uma pessoa e isso já é suficiente para colocar em cheque a imparcialidade. Daí a necessidade de cada vez mais melhorarmos as ferramentas, as fontes, a busca, o modo de se fazer jornalismo, para que não caiamos nos textos medíocres e nas suposições da verdade, que, quase sempre, não é absoluta.

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  15. Independente se no dia-a-dia vamos por em prática o que é ensinado na faculdade, creio que temos que darmos o nosso melhor, tanto na faculdade quanto no exercício de nossa profissão, pois são esses profissionais que o mercado esta precisando. Não adianta irmos para guerra derrotados, temos que acreditar que podemos futuramente fazer um mundo diferente e melhor, pois se mantivermos esse pensamento como "filosofia de vida" teremos mais forças para conseguir nossos objetivos.

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  16. A faculdade é um período de formação e moldagem do profissional. Somos impelidos por uma avalanche de conceitos e teorias que na prática não são tão simples assim quanto parece. Descobrir o foco da notícia acho bem mais complicado do que cumprir com o lead.
    A visão jornalística do professor também entra em questão ao conduzir-nos e a orientar-nos na redação das matérias. Cada um tem o seu método específico de lecionar. E nos primeiros anos aprendemos a dar conta do lead para cumprir um dos conceitos mais importantes do jornalismo. Porém, lead é fórmula, é caminho para se fazer jornalismo. Mas, cocerteza, a partir do momento que superamos essa etapa de iniciação somos impelidos a criar e colocar o nosso tempero na forma de fazer jornalismo.
    Estamos inseridos num sistema que tem as suas regras e formas, cabe a nós assimilar tudo isso e com nossa capacidade, coragem e ousadia apresentar um novo jeito de cumprir com o nosso primaz ofício que é o de "informar".
    Os professores são setas que nos apontam o longo e vasto caminho que trilharemos como jornalistas. Então, não podemos nos resumir somente nos conceitos apresentados em sala de aula que acrescentam muito, sim. Mas cabe a cada um de nós com a experiência que temos e teremos na profissão e na medida do possível construirmos a nossa história e conquistarmos o nosso espaço.

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