29 de março de 2010

A edição é (mesmo) o livro


A revista Veja desta semana traz uma matéria sobre o universo editorial e suportes tecnológicos que nele gravitam, cujo ótimo título consegue, com particular felicidade, captar a essência do que aborda: “A edição é o livro”!

Ao tratar da chegada do iPad, a combinação de notebook com leitor digital (e-reader) que a Apple lança em abril, o texto envereda pela discussão desses novos suportes eletrônicos como “opção à relação secular mantida pelo homem com os livros impressos”. E vêm as questões: a impressão física estaria em extinção? Qual o impacto dessas novas tecnologias no suporte impresso?

Naturalmente essa não é a primeira mudança no mercado de livros, mas, neste caso, o processo se dá de modo acelerado, como cada vez mais têm sido o ritmo das transformações tecnológicas. Em tal abordagem, Veja entrevista Juergen Boos, que, com 26 anos de experiência no mercado editorial, é o atual diretor da Feira de Frankfurt.

A percepção de Boos é clara: de certo, os dispositivos eletrônicos móveis e compactos vão atrair um novo tipo de leitor. Mas a proposta dos livros digitais é diferente da dos livros físicos, que continuarão a existir. Para ele, com a maior quantidade de conteúdo oriunda de meios diferentes, haverá outras plataformas para a leitura distintas da forma impressa, cabendo a editoras e livrarias também migrarem seus negócios para a área digital.

Contudo, a essência reside no oferecimento de serviços de alta qualidade. “Qualidade é algo que ainda falta na internet”, afirma Boos.“Quanto mais formas de acesso ao conteúdo, maior a necessidade de ter instâncias que filtrem esse material e assegurem ao leitor a qualidade do que está sendo produzido. Esse já é o papel atual das editoras e continuará sendo por muito tempo.” Eco! O livro é mesmo sua edição.

A chave está no fato da leitura significar mais do que simples obtenção de informação: “representa a essência da alfabetização em seu significado amplo”, pondera Boos. “Ou seja, a possibilidade de não apenas ler as palavras impressas no papel, mas entender o contexto, aprofundar-se nele, refletir e formar uma opinião. Os livros impressos exigem mais, intelectualmente, dos leitores.”

Os inúmeros canais de expressão da web veicularão muito mais autores, muitos deles amadores, que necessitarão de atenção especial das editoras. “É preciso assegurar a confiabilidade daquilo que se lê” – conclui Boos. “Caberá às editoras identificar esses talentos (...). Mas isso não prescinde de um forte exercício de editoração.”

Essa, por sinal, será a grande discussão do 1º Congresso Internacional do Livro Digital, em São Paulo (29 a 31/mar.), promovido pela Câmara Brasileira do Livro e a Imprensa Oficial, do qual participará Juergen Boos.

Foto: Jac©Edit

4 comentários:

  1. É isso aí, Heitor!
    A revista Veja me recuso a ler, por princípio jornalístico.
    Mas concordo com o entrevistado: edição realmente é tudo!!
    Abraço,
    bb

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  2. Valeu tua participação, Beto!
    Quanto à Veja, por aqui a lemos apenas por estar sendo entregue -- sabe-se lá por quê -- de modo gratuito. Cheios dos 2/3 de material propagandístico e o vesgo olhar jornalístico muitas vezes aplicado ao que resta de matérias, há um bom tempo cancelamos a assinatura.
    Abraço.

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  3. Caro Heitor,

    Seu comentário talvez ajude a explicar o que, para mim, é uma conversa fiada: a de que jornais e livros vão sumir com a revolução digital.

    Como sabemos, cada plataforma tem suas características e o jornal terá que se adaptar a essa nova realidade, não simplesmente desaparecer.

    Agora, se continuarem - como a Veja - com 2/3 de material publicitário, um "vesgo olhar jornalístico" (para usar sua expressão) e sem reportagens de qualidade, jornais, revistas, livros vão mesmo acabar! Mas não por causa da Internet.

    Livros e jornais são e serão necessários. É preciso apenas que revejam, os jornais notadamente, seus devidos lugares ao sol. Ou, para recorrer ao poeta João Cabral de Melo Neto, rever a parte que lhes cabe neste latifúndio (da informação).

    Abraços!

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  4. Concordo plenamente com tuas considerações, Rodrigo. Em termos de jornalismo, no Brasil, temos como bons exemplos pontuais dessa 'adaptação' à mídia eletrônica as 'extensões' que o 'JN' da Globo passou a dar às notícias que veicula na TV via seu portal na web -- no qual aprofunda, complementa os fatos e interage com o seu público -- e, já no ambiente impresso, a recente reforma por que passou o 'Estadão', com a qual as matérias convidam o leitor a lincá-las com complementos -- mais textos, fotos e vídeos -- postados no portal desse jornal.
    Mas essa tendência tem iniciativas ainda mais interessantes. Jornais impressos nos EUA já transmitem on line pela internet seus fechamentos de pauta e seus repórteres, p.ex., twittam as matérias que farão: antecipam, assim, aquilo que será publicado e, mesmo, dão abertura à própria contribuição do leitor no processo de produção do material noticioso.
    De qualquer forma, bom te ver por aqui, Rodrigo.
    Abraço.

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