17 de março de 2011

Flores do deserto contra mutilações femininas

Enquanto no Ocidente as mulheres avançam na conquista de seus direitos civis -- embora haja ainda um longo caminho a ser percorrido até a igualdade com os homens --, no Oriente a secular discriminação de gênero continua a se justificar nos territórios da tradição, da cultura e da religião para se traduzir, não raro, em torturas, punições horrendas e execuções públicas contra o sexo feminino.
......Mesmo as recentes revoltas populares que hoje alteram o cenário político no Oriente Médio e na África não garantem às mulheres nenhuma certeza de que passarão de simples “mercadorias de troca”, como têm sido há séculos, à condição de cidadãs participantes na construção de sociedades livres. Ativas nessas manifestações e levantes contra os ditadores do mundo árabe, o desafio delas agora é fazer valer a sua real contribuição nesses episódios para alcançar progressos significativos na condição feminina daqui para frente nesses países.
......Tão importantes quanto a queda dos ditadores e a construção de nações respeitosas dos direitos de sua população são as mudanças nas tradições arcaicas de submissão, subserviência e opressão feminina. E para fazer valer esse novo código de conduta, duas mulheres, cada qual a seu modo, enfrentaram humilhações e continuam superando pressões e censura para fazer valer o seu desejo de dignidade e independência.

......Uma delas é a psiquiatra e escritora egípcia Nawal El Saadawi, ex-exilada política que, além de feminista histórica, inspirou com suas ideias o movimento que levou à queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro passado. A perseguição política à Nawal teve início nos anos 70, quando ela publicou Mulheres e Sexo, contando os problemas decorrentes da mutilação genital que sofreu quando era uma menina de 6 anos. O livro foi retirado de circulação e proibido durante duas décadas no Egito. Depois disso, por conta de sua militância contra o fanatismo religioso, Nawal continuou perseguida, foi presa e processada pelos fundamentalistas por "trair" a religião muçulmana.
......Nawal também é autora de A Face Oculta de Eva (Global Editora, 2002), com depoimentos e entrevistas sobre a opressão vivida pelas mulheres nos países árabes. Hoje, aos 80 anos de idade, a ativista, que inclusive concorreu em 2005 à presidência do Egito contra Mubarak, permanece na luta pela liberdade política e pela inclusão social das mulheres egípcias. Para ela, “não existe democracia sem igualdade entre homens e mulheres”.
......A foto de Nawall (acima, sem crédito) é reproduzida do seu site, que, por sinal, traz a seguinte epígrafe: “Para as mulheres e os homens que escolhem e pagam o preço da liberdade, em vez de continuar pagando o preço da escravidão”.
......Outro ícone da luta contra a opressão feminina, dessa vez no continente africano, é a modelo, atriz e escritora somali Waris Dirie. Ela é a autora do best-seller internacional Flor do Deserto, publicado nos EUA em 1997 e com 11 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Autobiográfico, o livro conta como ela foi obrigada a se submeter à mutilação genital aos 5 anos.
......Aos 13, fugiu de um casamento forçado com um homem que tinha idade para ser seu avô e foi parar em Londres, onde trabalhou como faxineira no McDonald’s até ser descoberta por um grande fotógrafo, tornando-se então modelo e celebridade internacional.
......Em 2008, conseguiu ampliar a denúncia sobre a opressão contra as mulheres da África e do Oriente Médio, quando a sua história foi transportada para o filme Flor do Deserto (veja abaixo entrevista sobre ele), protagonizado por outra top model, a etíope Liya Kebede. A aterrorizadora cena da mutilação é recriada no filme com a intenção de alertar o público e poupar futuras gerações de mulheres.
......Embaixadora especial da ONU para a eliminação da mutilação genital feminina, Waris vive em Viena, onde preside a Desert Flower Foundation, que tem por objetivo eliminar do planeta esse violento ritual praticado diariamente, por muçulmanos e cristãos, em oito mil meninas.

Um comentário:

  1. luciana olivera borges21 de setembro de 2012 às 02:06

    eu tendo imagina tanta tristeza mais DEUS foi com vocé que DEUS de faraz vocé muito mais feliz

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